Leitura de Onda
Geração pós beach break
Dez anos atrás, o Brasil inchava os quadros do velho WCT com 11 surfistas, num recorde de representação que provavelmente não será superado tão cedo. Nas temporadas seguintes, com o surgimento dos eventos Prime em ondas perfeitas, a curva de integrantes brasileiros e de resultados caiu gradativamente até chegar a três solitárias testemunhas, em 2009.
Entre os 11 de 2001 e os três do ano retrasado, o surfista brasileiro se ralou mais do que nunca nos corais do mundo para aprender a surfar em ondas estranhas à própria pátria. A luta para superar os vícios escondidos em beach breaks ainda não foi completamente vencida, mas os antigos hábitos agonizam na arrebentação.
Uma prova contundente da evolução está no quinteto que representará o Brasil a partir do próximo sábado, quando começa mais uma temporada do WT. O time – formado por Adriano de Souza, Jadson André, Heitor Alves, Raoni Monteiro e Alejo Muniz – é heterogêneo sem ser desigual. Cada um tem a sua arma, e todos têm força.
Jadson e Alejo são os mais novos, na casa dos 21 anos. Adriano está no ponto de equilíbrio, com 24 anos: mescla maturidade e modernidade. Já Heitor e Raoni já alcançaram os 28 anos, mas fazem parte de um seleto clã de atletas mais velhos que conseguiu acompanhar o bonde avassalador da geração dos alley-oops.
Todos citam as manobras aéreas entre as suas favoritas, mas não se esquecem do tubo. Eles sabem que é nos cilindros que se formam os campeões.
Jadson e Heitor seguem imersos no intensivão de ondas perfeitas, aumentando as horas de tubo em picos como Teahupoo. Alejo, de uma geração que já cresceu em busca de formação fora dos beach breaks, venceu dias atrás um evento numa das ondas mais respeitadas do Brasil, a da Cacimba do Padre. Lá, o fundo é de areia, mas a variação de profundidade dá ao pico características de fundos mais nobres.
Adriano é um exemplo redondo de como evoluir dentro do tubo. Sua técnica de costas para a onda foi apurada no intervalo entre as temporadas às custas de muito suor. É o mais completo do time, e vai ensinar aos outros que, com disciplina, se chega longe.
Raoni, dono da mais fantástica recuperação da divisão de acesso em 2010, volta à elite depois de vencer dentro da panela de Sunset. E carrega com ele uma bagagem importante: a dos erros cometidos no passado. Dono de um talento incontestável, ele agora sabe qual caminho seguir – e qual não seguir – para vencer na elite.
O quinteto é mesmo de ponta. Talvez seja o primeiro grupo em que todos são capazes de superar a lacuna imposta pelo passado nos fundos de areia do quintal de casa. Mas, apesar da qualidade, é bom abrir os olhos: com cortes previstos no meio da temporada, a única saída para a sobrevivência no WT 2011 é surfar o tempo todo com a faca entre os dentes e sangue nos olhos.
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