Por Fábio Gouveia
Fábio Gouveia deixa claro que a profissão surfista exige muito mais do que talento dentro da água. Foto: Aleko Stergiou.
Ninguém nasce sabendo, mas uma vez tendo aprendido, certas ações podem ser chamadas de vacilo.
No último Espêice Fia, falei do investimento a longo prazo das empresas e dos atletas que encerravam suas carreiras algumas vezes prematuramente por falta de apoio.
Também falei dos que dedicavam uma vida no surf competição e finalizaram suas carreiras sem terem tido oportunidade de fazer outra coisa dentro das marcas que os patrocinaram por algum período.
A profissão de esportista não é nova, porém no surf este ramo vem carregado ainda de aprendizado, ou seja, cada vez mais se profissionalizando.
Agora é a vez de analisarmos também a postura de alguns (ou muitos) perante as necessidades de se ter uma carreira duradoura e novas oportunidades pós-pendurada de lycras de competição e até mesmo, da prancha.
De longe, não sou o dono da verdade, e cada um tem em certa altura a noção de saber o que faz. Para fazer coisas corretas também errei, erro, e mesmo em fase de aprendizado procurar o bom senso facilita as coisas.
Muitos no meio do surf não têm um contrato com as empresas que os patrocinam, porém aos que têm esta cláusula de “zelar o nome da marca onde quer que esteja” faz-se embutir a obrigação da postura do atleta. Leia-se: estar fazendo coisa errada carregando a “farda” do patrocinador.
Isso mesmo, igual aos tempos de colégio, quando moleque era pego fazendo arruaça fora da mesma com a identificação da instituição. Geralmente a primeira fase de explosão de um atleta é quando o cara ainda é bastante jovem, na casa dos 16 pra 20 anos.
Com o corpo em ebulição, a dosagem do ego ainda está para estabilizar-se, logo é normal aquela frase: “o cara tá estrelinha, tá se achando”. Neste período, a paciência talvez não seja ainda uma virtude, pois moleque quer saber mais é de apenas surfar, de se divertir, sem prestar muito atenção no que está à sua volta.
Depois é a fase do “de repente, pô! tenho de baixar a minha bola"... Ou então claro, as coisas vão sendo amenizadas no decorrer do tempo, pois, muitas vezes, sentimos que o buraco é mais embaixo.
Fase boa é muito bom, mas muitos esquecem da fase ruim. Se tratando de juventude, talvez muitos nem tiveram tempo de conhecer ou outro lado da moeda.
Penso que é nos momentos de “vacas gordas” que o atleta precisa trabalhar mais seu lado pessoal e profissional, fazendo as coisas corretas e arcando com seus compromissos, tendo uma boa postura perante marca, mídia e todos em geral.
Perante a marca, leia-se também facilitar a vida de outros profissionais dentro da empresa, seja atendendo solicitações para trabalhos de marketing ou utilizando adequadamente seus produtos, uma coisa que muitos muitas vezes não levam muito a sério.
Já vi “n” vezes atletas não usando corretamente a “farda” do patrocinador, até mesmo usando produtos de outras marcas e muitas vezes de concorrentes em locais públicos.
Perante a mídia existe aquele lance do cara ficar amarradão de estar saindo nas paradas, de estar sendo propagado. Quando é uma TV e um grande veículo impresso, então...
Claro que dentro do profissionalismo é preciso ter uma dosagem mas, no geral, precisa-se atender bem a todos, ser solícito, pois “eles” também fazem os seus trabalhos.
Trabalhos estes que podem botar o atleta lá em cima quando também lá pra baixo, como muitas vezes acontece.
Então, boa postura, paciência e disponibilidade são passos para o período de “vacas magras”. Este sim é o difícil e é onde muitos veem suas carreiras começar a declinar, ou seja, a luz se distanciando do fim do tubo. Depois não adianta chorar, mesmo tendo colega de profissão querendo defender.
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